segunda-feira, 23 de novembro de 2009

CONVERSA COM MINHA MÃE

Marido dá sermão na mulher grávida em Bebê de Rosemary.

Em rápida sucessão, num espaço de menos de 48 horas, minha mãe veio falar comigo sobre 1) como eu nunca deveria pular o café da manhã, 2) como eu deveria comer as bolinhas de melão que ela preparou pro meu café do dia seguinte, e 3) como meu cabelo era bonito e seria mais bonito ainda se eu o cortasse de sei lá que jeito. Não sei ao certo o corte sugerido porque tive que interrompê-la:
“Pó pará, mãe. Péssimo timing pra me dizer todas essas coisas. Estou relendo O Bebê de Rosemary”.
Ela: “Hum. E?...”
Eu: “E que O Bebê de Rosemary é sobre um monte de gente controlando todos os passos de uma mulher. O que ela come, seu corte de cabelo, com quem ela fala, o que ela lê. A única diferença é que é uma mulher grávida. E mulher grávida é propriedade mais pública ainda. Mas todas as mulheres são, mesmo as não grávidas”.
Ela: “Semana passada eu vi uma pessoa colocar a mão na barriga de uma mulher grávida. Elas nem se conheciam, e a pessoa já foi colocando a mão”.
Eu: “Isso é comum. A maior parte das mulheres grávidas passam por isso”.
Ela: “Eu não toco na barriga das grávidas que não conheço. Mas fico com vontade de abraçar todas as mulheres grávidas”.
Eu: “É, mas é meio invasivo, né? Talvez seja melhor só sorrir pra elas. Mas e aí, quer ler O Bebê de Rosemary? Vou escrever sobre o livro e o filme. Na realidade, a história não é sobre uma seita demoníaca. É sobre a seita do patriarcado”.
Mas ela não quis. E passamos a falar dos filmes do Polanski. Ontem eu revi Tess. É looooongo, né? Convocando meu leitor Mario Sergio pra comprar briga: a Natassja Kinski era uma atriz fraquinha, não?

19 comentários:

L. Archilla disse...

Saco, tô louca pra ver O Bebê faz tempo, mas tenho medo... :(

Júlio César disse...

Nossa! Há pouco tempo eu assisti a um filme do Wim Wenders e era a estreia na Natassja no cinema, era uma personagem muda. Me lembrou uma jovem Scarlett Johansson com suas caras e bocas.

Lord Anderson disse...

Eu recomendo tb a leitura do livro. É muito bom.

Patricia Scarpin disse...

Eu já vi o filme duas vezes e morri de medo em ambas. Fiquei com medo de fazer xixi no meio da noite, Lola. :S

Christina Frenzel disse...

Esse é um dos filmes que ainda me dão medo, sabia? MEDO mesmo, de depois não conseguir ouvir um barulhinho sequer sem o coração disparar rssss
Eu acho Tess chatiiinho. Muito. E também acho a Srta Kinsky fraquinha. Acho que nem era tão bela assim, sei lá...

Beijos

Oliveira disse...

Nossa! eu tenho dó da sua mãe. Você é uma pessoa muito triste e perdida dentro desse seu pragmatismo tolo.

Lord Anderson disse...

Liga não, Oli.

Quando a Lola fica triste, ela le suas mensagens e sorri muito com as bobeiras que vc fala.

sabrina disse...

Sempre ouvi falar de O Bebê de Rosemary e achava que seria o maior terror de assistir. Mas comecei a ver e fiquei o tempo todo me preparando pra uma coisa mais assustadora, que não acontece. Enfim... eu gostei e não achei assustador, mas se eu tiver uma vizinha igual a Ruth Gordon... ;-)

Masegui disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Masegui disse...

1) Natassja Kinski não precisa atuar bem, não precisa dizer nada, ela ainda é a mulher mais maravilhosa do mundo!

2) Tô de mal de todo mundo que ousar falar mal dela.

3) Não sei se eu já disse isso: o Oliveira é um idiota!

Lord Anderson disse...

OH, p/ ninguem achar que não se leva o combate a pedofilia a serio nesse pais:

Combate à pedofilia muda curso de Papai Noel em SP:

http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1388924-17815,00.html

Milena F. disse...

Engraçado você dizer sobre como ser grávida é ser propriedade pública.
Estou grávida e comentei com meu marido e minha mãe sobre isso essa semana.
As pessoas parecem ter uma necessidade/direito de colocar a mão na minha barriga. Sem contar que uma colega de trabalho que nem tenho tanta intimidade colocou a mão no meu peito e disse "Tomara que você tenha muito leite pra amamentar". Como se fosse normal sair por ai apalpando o peito alheio. haha
Beijos

Lord Anderson disse...

Milena


Ja começaram a te trarar como se fosse feita de porcelana?

Da ultima vez que uma colega de trabalho ficou gravida parte do pessoal aqui ficou em polvorosa, só faltavam querer carrega-la no colo.

Ela tinha que declarar umas duas vezes por dia que estava gravida não invalida.

Alba Almeida disse...

Olá, Lolíssima.
Incrível essa coisa de ter medo, eu endosso todos esses comentários de medo, quero assistir tenho medo, só o faria de dia e bem acompanhada. (isso no auge dos meus 4.4) Que vergonha!?!?!?!?!?
Mãe só muda de endereço... e o tempo num passa nunca.
Beijos e que bom que a internet voltou.

Milena F. disse...

Lord_Anderson:

Já me tratavam como uma "invalida" como sua colega de trabalho dizia. Ai fiquei com pressão alta, e ai tudo só piorou! haha
Meu médico pediu que eu fizesse repouso e que eu não fizesse mais serviços domesticos pesados, mas que não tinha problemas em cozinhar, arrumar a cama, lavar a louça, coisas assim leves. Mas cada vez que explico porque estou de licença as pessoas reagem como se eu estivesse a dois segundos de ter um ataque... haha
Chegaram ao cumulo de dizer que não era pra eu levantar nem pra cozinhar, que eu devia começar a pedir marmita... Vê se eu mereço.

Somnia Carvalho disse...

Oi Looola!

entao como vc ficou sem internet eu to atrasada na leitura, mas nao estou tannnto como estaria se vc estivesse em dia!

Entao molé! você sabe que esse negócio de o povo se enfiar e ir passando a mão na barriga da grávida ou pegando o seu filho do seu colo é um troço bemmmm brasileiro né?

Eu nunca tinha percebido como somos assim invasivos nesse assunto também até que fiquei grávida e vim pra ca de 3 meses. Daí a gravidez aqui nada de ninguem enfiar a mão na minha barriga. As pessoas raramente perguntam algo pra voce, cada um e mesmo na sua... Dai Angelo nasceu e tambem nunca ninguem ameaçou de toca-lo... e eu ia bem obrigada ate chegar com ele no Brasil, ja com 3 meses... O que todo mundo achava que era prova de interesse e carinho foi HOR-RI-VEL para mim... Era uma invasão tao grande... gente que eu nunca tinha visto mais magra no mercado, na rua, no shopping parava, dizia ai que lindo e JURO ia pegando do meu colo...

Foi tao maluco isso pra mim que minha primeira e segunda visita ao Brasil com ele pequeno foram frustantes. Eu nao queria ninguem tomando meu filho, apertando suas bochechas etc. Fui almocar num self service e duas senhoras que eu nao conhecia me pararam e disseram que eu deveria logo engravidar do segundo porque ele era lindo e eu pelo jeito ja estava passando da idade.

Nao e super legal isso? Essa preocupacao que todo mundo tem com a vida do outro?

Ah... sem contar que depois de eu quase caí dura depois da primeira olhada que recebi aqui quando voltei depois de ter filho. Aqui e em outros cantos por onde havia andado minha barriga maior, peito maior, bunda caida nao importava pra absolutamente ninguem, mas chegando no Brasil tudo isso passou a ser assunto da filha da tia da vizinha da sogra...

bom e por sua sorte, entao, sua mae so vai dar pitaco nesses assuntinhos porque se vc estivesse gravida ai nao seria pitaco de todo mundo que passasse pela sua frente, mesmo quando voce nunca tivesse perguntando sobre.

Unknown disse...

Adooooooooro "Rosemary's baby". Nem ligo por ser uma história de terror. Essa parte (pra mim) nem é tão importante...Sério. As "intervenções" na gravidez da pobre são o que mais me incomodam. Não li o livro, mas o filme não exagera nos conselhos aos quais as grávidas são submetidas. Desde do vizinho que você não sabe nem o nome até o homidibranco (médico). Exatamente como no filme...No meu caso recebi uma outra advertência "Não assistir a filme de terror na graidez"...Até que eu vi alguns, mas "O bebê..." eu não consegui não!

P.S.: Amo a decoração do apartamento de Rose e Guy.

lola aronovich disse...

Suas medrosas! Assistam ao Bebê de Rosemary, que é um filmaço! Aliás, preciso escrever sobre ele. Só não assistam quando estiverem grávidas. Aí eu não recomendo mesmo! É uma teoria da conspiração muito grande contra uma só mulher, tadinha!
E concordo, Cris: a parte "história de terror" vem naturalmente, pelo ritmo e o clima opressivo do filme, muito menos que pelo tema. O incrível é que bem pouca coisa aterrorizante acontece, e no entanto a gente entra totalmente no clima do filme! E até hoje eu não conheci ninguém que se pusesse do lado "do mal", contra a Rosemary. Por exemplo, defendendo o marido dela. Nunca! E também não vi quem achasse que ela está exagerando ou ficando neurótica. Quer dizer, tanto o filme quanto o livro permitem essa leitura tranquilamente (pelo menos até o final), só que a gente embarca tanto no sofrimento da protagonista que nem cogita que ela possa estar imaginando tudo.


Somnia, ri alto aqui ao ler o que as duas senhoras falaram pra vc: pra vc ter logo um outro filho porque a sua idade tava passando. Ah, tem um pessoal completamente sem noção, né? Muito interessante o seu comentário, Som. Bom, a gente sabe que brasileiro é muito mais físico, vai botando a mão mesmo. Mas isso de sueco não falar com grávida me pareceu estranho... Aqui uma das reclamações (com razão!) é como TODO MUNDO, qualquer estranho na rua, tem conselho pra dar pra mulher grávida, ou pra mães de bebês. E aí o pessoal não fica perguntando pra quando é, quantos quilos vc engordou e tal? Li comentários em blogs americanos (não lembro quais) relatando problemas parecidos de como grávida é propriedade pública. Não sei se chega no absurdo de tocar na barriga (e no peito, né, Milena?!), mas...


Muita saudade de ler os comentários de todas(os) vcs! Gostaria de poder comentar todos, mas não dá. Daqui a pouco vou ver Lua Nova! Fomos ao cinema ontem e tava lotadaço, daí pegamos ingressos pra hoje. E quarta vou (re)ver 2012. O maridão insistiu!

Anônimo disse...

Bom, comentário mais do que atrasado, mas acho que pode ser interessante: O Chuck Palahniuk (autor de Clube da Luta e, na minha humilde opinião, melhor escritor da atualidade) é fã ardoroso do Ira Levine, considera O Bebê de Rosemary uma das coisas mais assustadoras já escritas/filmadas e tem um texto interessantíssimo sobre isso chamado Dear Mr. Levine (presente na antologia Stranger Than Fiction)

Segundo o Palahniuk, a beleza do trabalho do Levine é usar o terror para apontar pra perigos reais que rondam nossa vida cotidiana. O horror central do Bebê de Rosemary seria a falta de escolha da mulher, que não pode decidir sobre seu próprio corpo sequer na mais extrema das circunstâncias. Na análise do Palahniuk, em todas as obras do Levine, quanto mais uma mulher não quer ou não pode tomar as rédeas da própria vida, mais aterrorizante vai se tornando a situação na qual ela se encontra. A salvação está sempre em tomar o controle. Confesso que nunca li ou assisti nada dele, mas fiquei interessada depois desta avaliação.